O PCP da linha de cascais
Aquando das eleições
legislativas, antecipadas, de 7 de junho último, muito se falou da queda abruta
do Bloco de Esquerda, metade da votação e metade da representação parlamentar,
não é brincadeira.
Uns, a minoria, pediu
uma convenção extraordinária para debater o assunto, os outros, a maioria, que
não, não se justificavam duas convenções tão próximas apenas (!!!) devido aos
resultados eleitorais, dos quais o bloco nem seria responsável, pois
verificara-se uma viragem do eleitorado à direita e os responsáveis por isso
eram Sócrates e o PS.
E contrapuseram a uma
nova convenção, um debate democrático e alargado interno e externo (para os
independentes).
Uma coisa que nunca
percebi no Bloco foi esta adoção de uma nomenclatura (convenção, mesa,…),
remetendo o nosso imaginário para a Revolução Francesa, uma revolução burguesa,
ou mais requintadamente para a maçonaria ou carbonária. Nestes tempos em que
para muitos a utilização das palavras é feita por uma questão de interesse e
não de significado, o estudo de um bom dicionário faz muita falta, e da
História também.
No entanto, passados
todos estes meses, urge perguntar por onde andam esses debates abertos e alargados
que ainda ninguém os viu.
Tirando uma secção no
jornal on-line Esquerda.net (http://www.esquerda.net/artigos/Debates%202011)
chamada de “Debate Aberto”, para onde militantes e não militantes podem enviar
as suas opiniões e estas são por lá publicadas, esta iniciativa está a léguas
de constituir o proclamado debate amplo, aberto, livre entre todos, porque o
que se passa naquela secção é mais como a “travessa do fala só” em que cada
qual descarrega a sua opinião e por vezes dissensões pessoais
mas debate é coisa que não existe, quando muito há meia dúzia de opiniões que
contam com meia dúzia de comentários.
Debate aberto? Ora…
O Bloco de Esquerda
implantou-se muito rapidamente, essencialmente em zonas urbanas e entre a
juventude que não se revia nos velhos partidos da esquerda pelas suas ideias
inovadoras e pela sua forma clara, aberta, simples e verdadeira de fazer política.
Quem ouvia um militante ou um dirigente do Bloco falar, sabia que era com
aquilo que podia contar e não o seu contrário.
A partir do momento em
que o Bloco começou a entrar em jogadas políticas, ter agendas escondidas,
dizer uma coisa para fazer outra, não se conseguiu nem impor no mundo do trabalho
nem teve a ousadia de criar uma força sindical oposta ao PCP, não encontrou
capacidade mobilizadora para protestos de rua indo a reboque da CGTP ou do PCP,
não ultrapassou o complexo PCP, como partido dominador e controleiro da
esquerda, não se conseguiu afirmar como alternativa democrática e revolucionária
ao estalinismo burguês instalado no PCP e na esquerda, antes lhes tomou os
vícios, apenas usando umas vestes mais modernas, o Bloco condenou-se a
representar apenas os movimentos que lhe deram origem e a estabelecer-se nos agora
8% mas com tendência a descer e a desaparecer. Isto se quiserem continuar a
insistir nos debates do fala só.
A esquerda não precisa
de uma réplica do PCP mais modernaça, bem vestida e mediática.
Um PCP da linha de
Cascais pode ter o seu minuto de fama mas será facilmente descartável.
Um Bloco que apresente
novas maneiras de fazer política, uma política ligada e centrada nas pessoas, que
tenha a coragem de promover verdadeiros debates, francos, abertos, de olhos nos
olhos, esse Bloco pode ter futuro.
Jaime Crespo
já nem peço ao Bloco que diga qualquer coisa de esquerda mas que diga qualquer coisa com sentido.
ResponderEliminar"No entanto, passados todos estes meses, urge perguntar por onde andam esses debates abertos e alargados que ainda ninguém os viu."
ResponderEliminarÉ uma das perguntas que me tenho colocado desde há algum tempo, independentemente de nunca ter votado - as ressacas não me permitem tal luxo burguês! - e, por isso, nunca ter contribuído para a expressão parlamentar do BE, o que, como tu sabes, não me põe de parte nesta questão.
As minhas tendências anarquistas levam-me sempre a desconfiar dos burocratas mas, uma vez mais, eles acabam por me dar razão na minha "infantilidade pequeno-burgesa" e eu, como tu te deves lembrar, fui dos que te incentivou a contribuir...
porque terei sido um dos muitos que te empurrou para avançares e contribuíres nessa espécie (para já - como vês, ainda me resta um pouco de ingenuidade!) de palhaçada.
Um abraço.
A. Vaz
Hoje mais um flop eleitoral, na Madeira, metade do eleitorado e um deputado regional, o único, foram à vida. Mas não se preocupem, a Mesa tem tudo sobre controlo e a culpa destes resultados deve ter sido da troika.
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