a chantagem do medo como forma de exercer política

Fear And Faith Print By John Lautermilch

Terror, terrorismo, revolta, convulsão social... Ao longo da História, tantas as vezes que estas expressões foram usadas quantos os significantes a elas atribuídos. Normalmente assumindo um significado pejorativo. Significação conotativa, a maior parte das vezes, atribuída pelos vencedores que mandam (re)escrever a História. Aceções atribuíveis tanto a sistemas governativos entretanto caídos em desgraça e seus métodos colocados a nú, como a prosaicos candidatos ao lugar histórico de libertadores dos povos.
De qualquer maneira, existia a seu modo, uma relação causal entre o atributo e o objeto em análise.
Por exemplo: "os regimes nazi e estalinista usaram o Terror como forma de se imporem";
ou, "a luta de guerrilha levada a cabo por Castro e Che Guevara, usou o terrorismo na guerra travada contra as tropas do ditador Batista...";
São exemplos de frases que ouvimos ou lemos referidas ao assunto.
Atualmente, uma nova conotação foi encontrada para qualquer um dos termos acima referidos, quer "per si", ou todos juntos numa terrífica e redundante frase, mas sem que a essa conotação seja atribuído o seu significante, digamos que é usada no vazio.
É um Terror escrito, ou dito, sobre o Terror. Esta é a prática comum de fazer política por políticos que até temos na boa conta de serem Democratas e defensores da Democracia.
Ficando-me pelo caso português, o atual governo aproveitando a ida do Zé Povinho a banhos, implementou (entre aumento de impostos e aumento de produtos e bens de primeira necessidade) um colossal corte nos orçamentos familiares ao qual só se safam os ricos, ou como gostam de dizer os comentadores, a classe alta, pois ao que parece, a classe média há muito que se esfumou entre os vapores desta crise...
Agora que o Zé já regressou dos banhos e fica boqueaberto ao verificar a conta na caixa do supermercado, o preço do passe ou do combustível para que o bolinhas se mova, a fatura da eletricidade, do gás, da água... Perante a possibilidade do Zé e sua Maria se irem manifestar descontentes avenida da liberdade abaixo, ou de entrarem na loucura de aderir a uma greve marcada por uma qualquer central sindical, os políticos, usando a palavra Democracia como eufemismo de vigarice, vem acenar com cenas de ódio social, terror, desacatos, violência...
Primeiro, no domingo passado foi Passos Coelho, hoje Paulo Portas, os dois expoentes principais da troika nacional e que nos está a lixar os bolsos, a avisarem, com todo o bom senso que se lhes conhece, o Zé Povo dos perigos de seguirem os perigosos extremistas de esquerda e deixarem-se levar à arruaça ou à greve que só prejudicam o desenvolvimento (sic..) (engulo em seco) do país!!! Qual país? Qual desenvolvimento? Não explicaram...
Ora o que eles pretendem com esta tática terrorista, a chantagem através do medo, é impedir que pessoas mais moderadas, apesar de fortemente atingidas pelo colossal roubo que tem sido vítimas por parte dos governantes e por isso mesmo dispostas a reclamarem justiça mesmo que isso exija ir para a rua gritar, a intenção deles é como eu dizia amedrontar estas pessoas e evitar que as manifestações engrossem mais que a normal mobilização da CGTP e do PCP, para depois virem reclamar que afinal a maioria do povo revela bom senso e apoia as medidas extremas que o governo vem implementando.
Não se deixem ir em lérias nem se assustem com chantagens, quem já anda acagaçado são eles. Mas deixo aqui o aviso, se as manifestações engrossarem e forem colossais, ide preparados porque mais tarde ou mais cedo eles acabarão por enviar para o meio delas os seus agentes provocadores, encapuçados, vestidos de negro, atribuir-lhes-ão uma qualquer filiação anarquista ou qualquer outra palavra, para eles tudo não passa de um jogo de palavras, conotada com algum extremismo e tentarão ligar a violência aos protestos e por a polícia a dar cargas de porrada no Zé mais na Maria.
Contra a política terrorista da chantagem pelo medo, a nossa resposta só pode ser uma: a afirmação da cidadania e da liberdade, participar em todas as manifestações e aderindo a todas as greves e formas de luta que venham a ser democrática e legalmente agendadas.
Rejeitando radicalismos espúrios mas também a política da mentira e da ameaça.
Vamos à luta!

Jaime Crespo

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