Ponto por ponto - a (minha) resposta possível ao desafio do Forum Manifesto, versão 1.0


Como recebi as propostas em debate tarde e a más horas, não pude debruçar-me sobre as mesmas, pelo que venho fazê-lo agora. Porque sou livre, porque quero e porque me apetece.
Começo pelo título, por mim, ficaria melhor “as respostas da Esquerda, em tempos de novo ciclo de crise”, gostos não se discutem, sempre ouvi dizer.
1.       Perdemos porque as pessoas não votaram em nós, ponto final parágrafo. Mas para ganharmos precisávamos das pessoas. Será que quando as pessoas precisaram de nós, nós soubemos estar próximo delas e disponibilizar o apoio que elas necessitavam? No parlamento estivemos, mas faltámos na rua, nas empresas, nas escolas, na luta…
2.       O futuro terá que passar pelo que falta fazer, estar nas empresas, nas escolas, na rua, onde as pessoas lutam contra forças desiguais. O futuro é lutar.
3.       Os credores ao leme da economia. Pois. O problema é que esteja lá quem estiver, a dimensão da dívida soberana é tal, mais os juros que os novos (e velhos) usurários “nos” impõem, que mesmo um iletrado em economia como eu já compreendeu que é impossível pagar. Não chegámos aqui do nada, exorcizámos todos os males em Sócrates mas ele não foi dos maiores culpados. Chegámos aqui, em parte, porque aderimos a uma organização chamada União Europeia (antes C.E.E., comunidade económica europeia, é sempre bom não olvidar) e essa organização tem dentro dela um organismo chamado Comissão Europeia. Ora esta tal de comissão rege as linhas gerais pelas quais, as economias dos diversos países da EU, tem que se coser. Renegociar a dívida? Talvez. Os credores perdoarem parte da mesma? Umh. Mas admitamos que pode ser. Sair do Euro? É mais que certo. E que tal sairmos desta “União” Europeia? Pior é sempre possível, mas no estado ao quisto chegou… são apenas ideias e acho bom começarmos a pensar nelas.
4.       Defender o estado social é bom, é mais que isso, é urgente! Mas para poder valer ao estado social, o estado propriamente dito tem que ter rendimentos. Dinheiro. O país tem que produzir. As empresas mais rendáveis tem que ser nacionalizadas ou se privadas as mais valias sobre as ações tem que ser fortemente taxadas. Só assim o estado é capitalizado para poder através do chamado estado social, redistribuir a riqueza e aplicar uma teoria muito simples: a solidariedade. A não se tomarem estas medidas não há estado que resista, social ou outro, é o retorno ao início do reinado de D. João II que ao ser aclamado e depois informado das rendas que cabiam à casa real terá desabafado “sou apenas senhor dos caminhos de Portugal”. Agora, até os caminhos, transformados por obra e graça cavaquista em autoestradas e vias rápidas, estão nas mãos de privados, aos quais o estado ainda paga renda! Estado Social? Sim! Haja coragem de tomar as medidas cerdas. Só vejo uma maneira de enfraquecer a troika: rasgar o acordo que foi assinado e iniciar uma rutura que poderá ser total com quem nos impôs a troika: a comissão europeia.

1.       Não vejo problemas em que pessoas, militantes, do Bloco de Esquerda se agrupem por simpatias ideológicas ou outras, isso é a expressão da democracia interna que desde o início definiu o Bloco de Esquerda como uma organização política diferente. Agora, essas correntes, ou tendências, reunirem quase clandestinamente como se de novas maçonarias se tratassem e levarem para dentro do Bloco de Esquerda as suas próprias agendas políticas, as agendas ocultas, e como são maioritários na Mesa e na Direção imporem a sua agenda a todo o Bloco de Esquerda, sem qualquer discussão prévia, isso está a matar o Bloco de Esquerda. Ou o Bloco de Esquerda consegue funcionar como um partido político em pirâmide invertida, os dirigentes são mandatados para efetivarem as políticas emanadas das bases ou o contrário, como se constata, o topo a impor decisões às bases, será o caminho mais rápido que o TGV para a morte do Bloco de Esquerda. Depois, quando cada meia dúzia voltar a estar reduzida à sua capelinha, então talvez se recordem do mal que estão a fazer à esquerda em Portugal. Será que terão essa consciência? O Bloco de Esquerda não necessita de novos dirigentes nem de dirigentes novos, necessita isso sim, de novas práticas políticas.
2.       A diversidade bem como a liberdade são pedras basilares da nova esquerda, a renovação da liderança inevitável e inexorável, não há pessoas insubstituíveis e as pessoas como as ideologias tem que se renovar com o tempo e com as novas realidades e desafios que a sociedade nos coloca.
3.       A abertura ao exterior é boa, mas excelente será começar por uma abertura interna e não assistirmos a núcleos ou distritais que pela sua situação necessitam de incentivos e de se organizar, que não recebam em troca quem os vai controlar. Nem reagir como virgens histéricas quando algum militante vem apresentar alguma crítica, por mais negativa que a mesma seja. Que moral temos para criticar o sectarismo quando à primeira crítica negativa que alguém nos faz estamos dispostos de imediato a reacender as fogueiras, as da inquisição e a das vaidades.
4.       Se é verdade que o PCP, através da CGTP, guarda com unhas e dentes os sindicatos, não é menos verdade que o nº de sindicalizados em Portugal é dos mais baixos em toda a Europa, os números que os dirigentes sindicais apresentam são pura fantasia. Este afastamento dos trabalhadores dos sindicatos não se dá por um motivo apenas, mas vários, aos quais não será alheio a coutada que PCP, PS e PSD fizeram suas através das centrais CGTP e UGT. Um afastamento entre o que é a ação dos dirigentes sindicais e as aspirações dos trabalhadores. A política de privatizações que ao colocar nas mãos privadas quase todos os setores económicos colocou os trabalhadores reféns do patronato e o sentimento crescente de que o sindicato não serve para nada, outros estarão mesmo condicionados pelo medo. Novas práticas sindicais são necessárias como de pão para a boca, ainda para mais agora que os trabalhadores sofrem a maior ofensiva aos seus direitos e dignidade laboral e para resistirem a essa investida necessitam mais que nunca de se organizarem. Disse, de se organizarem, não necessitam absolutamente nada de ser controlados. Há, em minha opinião todo um mundo de trabalhadores abertos à organização sindical, mas a uma organização sindical que seja de facto a expressão dos anseios e das reivindicações dos trabalhadores. Sindicatos,  em que os dirigentes sejam mandatários dos trabalhadores e não se constituem em  “novos patrões” que decidem quando se faz greve, quando se vem a Lisboa passear de autocarro e de caminho passa-se por uma manifestação. De sindicalistas que decidem por eles estão os trabalhadores fartos. Além disso, os sindicatos tradicionais não encontraram resposta para enfrentar os problemas causados pela globalização, ao contrário do capitalismo que aproveitou os custos de produção e mão de obra extremamente baratos em países asiáticos e na América latina, para empreender uma ofensiva sem tréguas contra, essencialmente os trabalhadores da Europa ocidental, atacando tudo o que é direito laboral conquistado pela classe trabalhadora ao longo de séculos de luta intensa, criando enormes bolsas de desemprego, inventando novas relações laborais não abrangidas pela anterior legislação, como o contrato individual de trabalho, o fim do vínculo ao estado da maior parte dos funcionários públicos, a inovação do recibo verde, a precariedade no trabalho, o trabalho sem direitos, enfim, o fim do estado social. A toda esta aparente imparável marcha capitalista rumo ao futuro, que para nós será negro, foram os sindicatos tradicionais incapazes de encontrar estratégias que contrariassem este rumo devastador, antes pelo contrário, muitos dos seus dirigentes negociaram este estado de coisas com o patronato. É necessário também no campo sindical abrir brechas por onde entre um novo sindicalismo, descomprometido com concertações que apenas tem conduzido os trabalhadores de derrota em derrota, um sindicalismo lutador, criativo, que retome o caminho da luta vitoriosa dos trabalhadores e que seja a voz de todos aqueles que os atuais sindicalistas prescindiram: os desempregados, os precários, o trabalhador do recibo verde, o trabalhador sem direitos...



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