Assim fala José Cruz
Apresentação do livro “texturas diversas”, pelo Dr. José
Cruz, Magistrado do Ministério Público
Senhoras e senhores, Boa tarde
Peço a vossa indulgência para o manifesto desalinhavo e
pobreza das palavras
que irei proferir, na apresentação de “Texturas Diversas”. É
manifesto que o
autor e a obra valem e merecem muito mais.
Permitam o desabafo: Para mim é uma honra e um privilégio
participar nesta
sessão.
Autor e obra formam um todo indissociável.
Creio que grande parte dos presentes conhece o Prof. Jaime
Crespo.
Nascido em Tolosa, Nisa, distrito de Portalegre. Estudos
primários feitos na sua
terra natal, o ciclo em Nisa, ensino unificado, até ao 11º
ano, em Portalegre. A
que se segue, igualmente, em Portalegre, o curso do
magistério primário,
concluído em 1986.
Mais tarde, em Macau, obteve a licenciatura em estudos
portugueses,
sendo distinguido, em 1996, com o prémio Ho Yin, por ter
sido o aluno que
obteve as melhores notas. Em 1997 e 1998 completa o curso de
componente
de formação em ciências da educação.
Naquele Território, foi o vencedor do prémio literário do
concurso “Macau
1999”, atribuído pelo jornal Ponto Final e pela “STDM”.
Exerce há 28 anos a profissão de professor do 1º ciclo do
ensino básico.
É casado e tem uma filha.
Quem, como eu, teve e tem a oportunidade de conviver com
Jaime
Crespo salienta a sua fina ironia, o seu olhar atento
curioso sobre o mundo que
o rodeia, a sua constante interrogação quanto ao profundo
sentido do eu e do
outro, as relações do homem com todo o meio social
envolvente.
Tudo servido e fundamentado na profunda e sólida cultura de
que é
detentor, nada fazendo para a exibir.
Como tereis oportunidade de constatar, o que acabo de
afirmar é
evidenciado na obra que ora é publicamente apresentada.
De que trata “Texturas Diversas”?
A contra-capa do livro dá-nos conta do seu conteúdo.
Não vou aqui repetir o que ali foi escrito.
No final de contas, o conteúdo essencial de um livro é
constituído por
tudo aquilo que as palavras escritas inculcaram no espírito
do leitor.
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O que ficou no meu espírito, após a leitura da obra, não
será
necessariamente o mesmo que ficou ou ficará na mente de
outro leitor.
Cada leitor é um mundo, com grelhas diferenciadas de
leitura,
resultantes das suas anteriores vivências.
No que me toca: na contra-capa vem referido que “Texturas
Diversas”
“é uma colectânea constituída por textos variados quer no
assunto, quer no
género, no estilo e no nível de linguagem, de leitura leve e
fácil”.
Aparentemente assim é.
Os temas, os assuntos, os géneros são vários, sem se
vislumbrar
qualquer fio condutor entre eles.
Por outro lado, efectivamente, a leitura é fácil e leve.
Da impressão que a leitura do livro deixou na minha mente,
afigura-se-
me claro que existe um fio condutor (ainda que escondido)
entre os vários
temas.
A leitura apesar de leve e fácil remete para conteúdos
merecedores de
profunda reflexão.
O difícil é tornar fácil e inteligível, o que não é fácil e
intrincado.
Esse um dos outros méritos, que não o menor, da obra.
O título é “Texturas Diversas”.
“Textura é o aspecto de uma superfície ou seja, a
"pele" de uma forma,
que permite identificá-la e distingui-la de outras formas.
Quando tocamos ou
olhamos para um objeto ou uma superfície sentimos se a sua
pele é lisa,
rugosa, macia, áspera ou ondulada. A textura é, por isso,
uma sensação visual
ou tocável. Texturas de certos objetos ajudam na sua
identificação.”
De que Textura falamos aqui?
Em concreto, na minha óptica, o aspecto da superfície, a
“pele” de uma
forma que a identifica e distingue das outras, refere-se a
uma concreta e real
personagem.
Personagem entendida como qualquer ser atuante de uma
história ou
obra.
A personagem tem um nome: Jaime Crespo!
A colectânea de textos variados, que constituem o livro, tem
um fio
condutor, aparentemente escondido.
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Unindo as pontas desse fio, entre muitas outras possíveis
ilações,
concluo que o conjunto de textos que constituem o livro,
constituem
apontamentos, subsídios, que integram um potencial esboço
geral de uma
personagem, um esquisso de uma biografia.
No caso, personagem e/ou biografia têm um nome: Jaime
Crespo.
Porque digo isto?
Vejamos:
“Todos quando nascemos trazemos dentro de nós uma chave, a
chave
que nos permite ou não, abrir as portas da existência e é
esse o motivo que
nos mantém vivos”, pag. 46.
“Todos encontramos o que procuramos. Nada agrada a todos:
este
homem colhe rosas, aquele espinhos”, Gaius Petronius in
Satiricon.
Na obra, parece-me evidente, que o autor, utilizando a chave
que é
portador, tenta abrir a porta da sua existência, em ordem a
encontrar aquilo
que procura.
Na pag. 11, efectua um autorretrato em quatro andamentos.
De seguida, em texto polvilhado por profunda ternura,
fala-nos da
estreita ligação que tem com sua mãe- “Naquele dia morri,
afogado nas ondas
do mar, dos olhos de minha mãe”, pag. 14.
Em textos subsequentes, Jaime Crespo, diz-nos o que foi e
como foi a
fase da sua formação e construção de homem e cidadão.
Dá-nos conta das suas inquietações como homem e como ser
envolvido
socialmente.
Nascido em Tolosa, Nisa, conta-nos, ainda que sumariamente,
o que ali
foi a sua vida, os amigos que teve, as muitas leituras que o
formaram e o
influenciaram; em concreto, saudades de ti, pag. 69, e o
escriba, pag. 93.
Fala-nos de uma história de amor ocorrida no Alentejo, pag.
15. Conta-
nos a forma como outros vêm o Alentejo, através da recensão
de obras de Rui
Cardoso Martins, pag. 21, e de José Luís Peixoto, pag. 29.
Depois, abrindo o foco da lente com que observa o mundo,
fala-nos da
Pátria e do Mundo, do que é ser português em Portugal, no
mundo e em
Macau.
“As nossas armas são livros e as munições poemas”, pag 129.
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“A epopeia do quão custoso é ser português”, pag 29., “num
país onde
não se podia voar alto porque tinha um teto demasiado
baixo”, pag. 55, em que
“o fado é a filosofia de vida do povo português”, pag. 57;
“nós que inventámos o
desenrascanço e a vigarice e espalhámos estas nobres artes
pelo mundo, tudo
consentimos, esperávamos o quê?, pag. 56., num país que não
tem gerações,
“tem apenas uma amálgama de novos e velhos que se indignam
sossegadamente”, pag. 137.
Aborda também a sua visão da actualidade a nível social e
político,
partilha connosco preocupações e desencantos.
Ainda que de forma muito rápida, fála-nos de si, “sei que
não sou uma
pessoa fácil, mas também estou longe de ser um homem
complicado; pag. 65,
“sou assim um sentimental inveterado”, pag. 69.
Dá-nos conta dos seus gostos literários e cinematográficos.
Tudo isto, não constituirão subsídios caracterizadores de
uma
personagem?
Assim sendo, aqui temos um possível esboço de uma biografia
incompleta de Jaime Crespo.
Permitam-me que conclua com uma citação, constante de fls.
37, que
traduz a minha apreciação da obra:
“Confesso, gosto da escrita deste gajo, porra!
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