O eufemismo do voto útil
Não conheço nada de mais inútil que o chamado "voto útil".
De fato votar "útil" é empenhar aquilo que mais prezamos no âmago da nossa consciência: as nossas convicções e a nossa liberdade em defendê-las.
Quem se deixa ir na dança do voto útil, deixa-se cair na acefalia política.
Quando espíritos bem-intencionados na aparência, apelam a uma campanha sem crispações, estão de fato a querer ou a querer que outros por eles, fujam ao debate político das ideias.
E é este mundo encantado, limpo, acético, é com este paraíso na terra que eles nos pretendem adormecer, como se num repente tivessem agora reinventado a pólvora, ou melhor, a cidade do sol, o mundo perfeito.
Um mundo perfeito não tem crispações. Não necessita de debate nem de clivagens políticas. Oferecem-nos este admirável mundo novo de bandeja, para que queremos nós o retorno das ideologias políticas.
Este mundo que ora nos oferecem, é uma bonita e apetitosa maçã, mas tal como a da história, está envenenada e adormece-nos.
"xiu minino, não falá política".
Todos os mundos perfeitos têm, no entanto, um pequeno defeito, não conseguem abafar a ânsia de liberdade.
Jaime Crespo
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