No país dos alienígenas
Passei a última semana a acompanhar a campanha eleitoral, quer nos espaços informativos, quer no espaço reservado aos partidos concorrentes para exporem as suas propostas.
No primeiro caso praticamente só aparecem os ditos "partidos com assento parlamentar", o que só por si é um paradoxo já que a assembleia foi dissolvida e consequentemente todos ficaram sem assentos, mas adiante, tanto aí como no espaço da campanha eleitoral, vê-se e ouve-se de tudo um pouco exceto propostas para o país.
Com a "desideoligização" da política levada a cabo pelos controladores da opinião porque convém aos detentores do poder, massificar as ideias é o último reduto a conquistar… Os partidos políticos deixam de se identificar por particularidades ideológicas e tornam-se indistintos, o que faz a que apareçam figuras mediáticas e simpáticas ao público e acabam por ser a única diferença entre eles. Daí, encontrar-se muita gente a confessar perante as câmaras, estarem indecisos entre votar no Bloco de Esquerda ou no CDS/PP.
Assim, nesta sopa ideologicamente acética, o que os eleitores procuram, é a figura de um D. Sebastião retardado, um homem providencial, e procura nos líderes dos partidos essa figura sobre-humana.
Perante o desfile de promessas banalizadas, educação e saúde de qualidade para todos, melhoria das condições de vida, etc, etc, o povo votante confunde-se e confunde o valor do voto.
Num momento em que o país já está bem para lá do abismo e sem condições de sair dele, pois o tecido produtivo é incipiente e não se vislumbram grandes hipóteses de saída, apenas um pequeno partido, ainda marcado por uma ideologia forte, o POUS, propões alternativas para o plano que a Troika prescreveu para ser posto em prática desde já. E propõem uma rutura total com a U.E. e o determinismo económico do capital financeiro. As hipóteses de viabilidade desta proposta não são no entanto aprofundadas. Já viram algum cão largar calmamente o osso que tem na boca?
Quanto ao resto uma imensidão de ideias vazias. O Bloco de Esquerda e o PCP também se dizem contrários ao acordo estabelecido com a troika, mas apenas oferecem em alternativa a renegociação da dívida, não põem em causa as causas da dívida.
Por outro lado, ninguém explica aos interessados, que somos todos nós, as medidas reais que o acordo implica. Assim, ao olharmos para esta realidade que os nossos políticos nos servem, só podemos chegar à conclusão de que vivemos entre alienígenas. Ao pé dos discursos, falinhas mansas, abraços, apertos de mão, beijinhos, o folclore das arruadas, tudo parece de outro planeta.
Perante este cenário, Philip K. Dick ou Úrsula Le Guin, entre outros, não passam de escritores de histórias infantis.
Quando em Setembro, após mal acabadas as férias, formos confrontados com mais impostos, menos salário, provavelmente o desemprego que espreita por nós.
No momento em que verificarmos que o nosso dinheiro já não dá para pagar a prestação da casa, do carro... mal dá para o bife e a imperial... como dizia o meu avô "então é que a porca torce o rabo".
Aí vamos ver onde chega a calma e serenidade, famosas qualidades, deste povo à beira mar plantado.
E vamos verificar se os senhores agora simpáticos e alegres país fora, tem tomates para nos encarar apenas com a verdade.
Jaime Crespo
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