Francisco José Viegas

em português, como tão bem me ensinou o Dr. Barrocas, escola industrial e comercial de portalegre, a expressão usual é mesmo "vai levar no cu!"

não é necessário alguém dedicar-se muito aos temas da política para concluir que vivemos um momento único na História portuguesa de divórcio entre os governantes e os governados. os primeiros ignoram os segundos, estes mimam com o calão mais vernaculoso os primeiros.
nem é necessário deslocar-se a manifestações e ouvir o que proferem os transportam escrito em cartazes os manifestantes mais radicais, ou indignados para percebermos que ao desprezo que os governantes revelam pelos governados, estes não tem pejo em demonstrar desrespeito por eles.
rezam as crónicas, de estrangeiros, para sermos imparciais, aquando do regicídio de D. Carlos e do filho, em 1908, que o que mais os impressionou não foi o ato em si mas a indiferença, perante o acontecido, demonstrada pelas pessoas.
hoje, o que releva aos sentidos de quem assiste, não é o fosso entre governados e governantes mas o desrespeito que vai crescendo.
e quando um jornal conservador popular como o "correio da manhã" não se coibe de publicar um texto contendo o miminho "vá tomar no cu" escrito pelo ex-secretário de estado da cultura e dirigido na forma de um funcionário da autoridade fiscal e aduaneira mas de facto dirigido àqueles que ainda há três meses eram seus colegas de governo, não é necessário qualquer louco radical dizê-lo: o país está no fundo de uma fossa de saneamento básico, sem tratamento ou na qual o mesmo, como na maioria delas, não funciona porque apenas serviu para encher os bolsos de um amigo.


salvé João Gobern!

cessem todos os argumentos pró e contra o serviço público de rádio e televisão, hoje, na antena um, cerca das 7:45, num curto comentário de menos de cinco minutos, João Gobern demonstrou-nos em singelo exercício linguistico, o porquê da necessidade da existência desses serviços na esfera pública: a liberdade e a responsabilidade de quem comunica com o público.
fora-me deitar com coceira na careca devido aos muitos pruridos com que os canais noticiosos privados se referiram à expressão utilizada pelo escritor e ex-secretário de estado da cultura sobre o caso das faturas. usou uma expressão do calão vernáculo português, disseram eles. mas que raio disera o homem? teria mandado alguém tomar café com leite por uma caneca das caldas? e na dúvida me fui deitar mas dormi sobre a inquietação da ignorância.
na sua crónica desta manhã, "pano para mangas", João Gobern acalmou a minha inquietação, primeiro, a expressão não pertence ao calão nacional mas ao brasileiro, deve ser pelo senhor Viegas gostar muito do país irmão. Assim, João Gobern, com a simplicidade dos livres e a acutilância dos inteligentes e a responsabilidade de quem comunica e sabe como se faz, usou e bem o serviço público de rádio para esclarecer todos os portugueses que não compram o "correio da manhã" e esclareceu-nos sobre as veras palavras de Viegas.
só espero agora que nenhum tsunami da indignação e da inquisição se levante nem contra um, nem contra o outro.


retomando o texto de Francisco José Viegas, ele aponta uma perspetiva da qual eu já me havia lembrado mas ainda não referira, no caso das faturas e caso forneçamos o nosso número de contribuinte ao comerciante, os dados são exportados para o portal das finanças podendo estas dar-lhe o uso que entender além de poder ser considerado uma devassa da vida privada porque permite-lhes saber o que eu adquiri, como e onde. a questão é muito bem colocada por F J Viegas: e a autoridade para a proteção de dados não tem nada a dizer? ou como muitas coisas neste país e na União Europeia é apenas mais um meio de arranjar tachos para os amigos?

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