camarate... ainda:)
António Nabo/Miguel
Teixeira
26 Abr/2012,
20:42
PSD, PS e CDS podem
vir a aprovar uma nova Comissão de Inquérito ao caso Camarate. O inquérito é
defendido pelo deputado Ribeiro e Castro, depois de ter sido revelada uma carta
escrita por Fernando Farinha Simões que confessa ter sido um dos organizadores
do atentado.
Assassinato do
Primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro, e o envolvimento dos
americanos.
Eu, Fernando Farinha
Simões, decidi finalmente, em 2011, contar toda a verdade sobre
Camarate.
No passado nunca
contei toda a operação de Camarate, pois estando a correr o processo judícial,
poderia ser preso e condenado.
Também porque
durante 25 anos não podia falar, por estar obrigado ao sígilo por parte da CIA,
mas esta situação mudou agora, ao que acresce o facto da CIA me ter abandonado
completamente desde 1989.
Finalmente decidi
falar por obrigação de consciência.
Fiz o meu primeiro
depoimento sobre Camarate, na Comissão de Inquérito Parlamentar, em
1995.
Mais tarde prestei
alguns depoimentos em que fui acrescentando factos e informações.
Cheguei a prestar
declarações para um programa da SIC, organizado por Emílio Rangel, que não
chegou contudo a ir para o ar.
Em todas essas
declarações públicas contei factos sobre o atentado de Camarate, que nunca foram
desmentidos, apesar dos nomes que citei e da gravidade dos factos que
referi.
Em todos esses
relatos, eu desmenti a tese oficial do acidente, defendida pela Polícia
Judiciária e pela Procuradoria-geral da Republica.
Numa tive dúvidas de
que as Comissões de Inquérito Parlamentares estavam no caminho certo, pois
Camarate foi um atentado.
Devo também dizer
que tendo eu falado de factos sobre Camarate tão graves e do envolvimento de
certas pessoas nesses factos, sempre me surpreendeu que essas pessoas tenham
preferido o silêncio.
Estão neste caso o
Tenente Coronel Lencastre Bernardo ou o Major Canto e
Castro.
Se se sentissem
ofendidos pelas minhas declarações, teria sido lógico que tivessem
reagido.
Quanto a mim, este
seu silêncio só pode significar que, tendo noção do que fizeram, consideraram
que quanto menos se falar no assunto, melhor.
Nessas declarações
que fiz, desde 1995, fui relatando, sucessivamente, apenas parte dos factos
ocorridos, sem nunca ter feito a narração completa dos
acontecimentos.
Estavamos ainda
relativamente proximos dos acontecimentos e não quis portanto revelar todos os
pormenores, nem todas as pessoas envolvidas nesta
operação.
Contudo, após terem
passado mais de 30 anos sobre os factos, entendi que todos os portugueses tinham
o direito de conhecer o que verdadeiramente sucedeu em
Camarate.
Não quero contudo
deixar de referir que hoje estou profundamente arrependido de ter participado
nesta operação, não apenas pelas pessoas que aí morreram, e cuja qualidade
humana só mais tarde tive ocasião de conhecer, como do prejuízo que constituiu,
para o futuro do país, o desaparecimento dessas
pessoas.
Naquela altura
contudo, Camarate era apenas mais uma operação em que participava, pelo que não
medi as consequências.
Peço por isso
desculpa aos familiares das vítimas, e aos Portugueses em geral, pelas
consequências da operação em que participei.
Gostaria assim de
voltar atrás no tempo, para explicar como acabei por me envolver nesta
operação.
Em 1974 conheci, na
África do Sul, a agente dupla alemã, Uta Gerveck, que trabalhava para a BND
(Bundesnachristendienst) - Serviços de Inteligência Alemães Ocidentais, e ao
mesmo tempo para a Stassi.
A cobertura legal de
Uta Gerveck é feita através do conselho mundial das Igrejas (uma espécie de
ONG), e é através dessa fachada que viaja praticamente pelo Mundo todo,
trabalhando ao mesmo tempo para a BND e para a
Stassi.
Fez um livro em
alemão que me dedicou, e que ainda tenho, sobre a luta de liberdade do PAIGC na
Guiné Bissau.
O meu trabalho com a
Stassi veio contudo a verificar-se posteriormente, quando estava já a trabalhar
para a CIA.
A minha infiltração
na Stassi dá-se por convite da Uta Gerveck, em 1976, com a concordância da CIA,
pois isso interessava-lhes muito.
Úta Gerveck
apresenta-me, em 1978, em Berlim Leste, a Marcus Wolf, então Director da
Stassi.
Fui para esse efeito
então clandestinamente a Berlim Leste, com um passaporte espanhol, que me foi
fornecido por Úta Gerveck.
0 meu trabalho de
infiltração na Stassi consistiu na elaboração de relatórios pormenorizados
acerta das “toupeiras" infiltradas na Alemanha Ocidental pela
Stassi.
Que actuavam
nomeadamente junto de Helmut Khol, Helmut Schmidt e de Hans Jurgen
Wischewski.
Hans Jurgen
Wischewski era o raponsável pelas relações e contactos entre a Alemanha
Ocidental e de Leste, sendo Presidente da Associação Alemã de Coopenção e
Desenvolvimento (ajuda ao terceiro Mundo), e também ia às reuniões do Grupo
Bilderberg.
Viabilizou também
muitas operações clandestinas, nos anos 70 e 80, de ajuda a gupos de libertação,
a partir da Alemanha Ocidental.
Estive também na
Academia da Stassi, várias vezes, em Postdan -
Eiche.
Relativamente ao
relato dos factos, gostaria de começar por referir que tenho contactos, desde
1970, em Angola, com um agente da CIA, que é o jornalista e apresentador de
televisão Paulo Cardoso (já falecido).
Conheci Paulo
Cardoso em Angola com quem trabalhei na TVA - Televisão de Angola na
altura.
Em 1975, formei em
Portugal, os CODECO com José Esteves, Vasco Montez, Carlos Miranda e Jorge Gago
(já falecido).
Esta organização
pretendia, defender, em Portugal, se necessário por via de guerrilha, os valores
do Mundo Ocidental.
Através de Paulo
Cardoso sou apresentado, em 1975, no Hotel Sheraton, em Lisboa, a um agente da
CIA, antena, (recolha de informações), chamado Philip
Snell.
Falei então durante
algum tempo com Philip Snell.
O Paulo Cardoso
estava então a viver no Hotel Sheraton.
Passados poucos
dias, Philip Snell, diz-me para ir levantar, gratuitamente, um bilhete de avião,
de Lisboa para Londres, a uma agência de viagens na Av. De Ceuta, que trabalhava
para a embaixada dos EUA.
Fui então a uma
reunião em Londres, onde encontrei um amigo antigo, Gary Van Dyk, da África do
Sul, que colaborava com a CIA.
Fui então
entrevistado pelo chefe da estação da CIA para a Europa, que se chamava John
Logan.
Gary Van Dyk,
defendeu nessa reunião, a minha entrada para a CIA, dizendo que me conhecia bem
de Angola, e que eu trabalhava com eficiência.
Comecei então a
trabalhar para a CIA, tendo também para esse efeito pesado o facto de ter
anteriormente colaborado com a NISS - National Intelligence Security Service (
Agência Sul Africana de Informações).
Gary Van Dyk era o
antena, em Londres, do DONS - Department Operational of National Security (Sul
Africana).
Regressando a
Lisboa, trabalhei para a Embaixada dos EUA, em Lisboa entre 1975 e 1988, a tempo
inteiro.
Entre 1976 e 1977,
durante cerca de um ano e meio vivi numa suite no Hotel Sheraton, o que pode ser
comprovado, tudo pago pela Embaixada dos EUA.
Conduzia então um
carro com matrícula diplomática, um Ford, que estacionava na garagem do
Hotel.
Nesta suite viveu
também a minha mulher, Elsa, já grávida da minha filha
Eliana.
O meu trabalho
incluia recolha de informações /contra informações, informações sobre tráfico de
armas, de operações de combate ao tráfico de droga, informações sobre
terrorismo, recrutamento de informadores, etc.
Estas actividades
incluem contactos com serviços secretos de outros países, como a Stassi, a
Mossad, e a "Boss" (Sul Africana), depois NISS - National Information Secret
Service, depois DONS e actualmete SASS.
Era pago em
Portugal, recebendo cerca de USD 5.000 por mês.
Nestas actividades
facilita o facto de eu falar seis línguas.
Actuei utilizando
vários nomes diferente, com passaportes fornecidos pela Embaixada dos EUA em
Lisboa.
Facilitava também o
facto de eu falar um dialecto angolano, o kimbundo.
A Embaixada dos EUA
tinha também uma casa de recuo na Quinta da Marinha, que me estava entregue, e
onde ficavam frequentemente agentes e militares americanos, que passavam por
Portugal.
Era a vivenda
"Alpendrada".
A partir de 1975,
como referi, passei a trabalhar directamente para a
CIA.
Contudo a partir de
l978, passei a trabalhar como agente encoberto, no chamado "Office of Special
Operations".
A que se chamava
serviços clandestinos, e que visavam observar um alvo, incluindo perseguir,
conhecer e eliminar o alvo, em qualquer país do mundo, excepto nos
EUA.
Por pertencermos a
este Office, éramos obrigados a assinar uma clausula que se chamava "plausible
denial" que significa que se fossemos apanhados nestas operações com documentos
de identificação falsos, a situação seria por nossa conta e risco, e a CIA nada
teria a ver com a situação.
Nessa circunstância
tinhamos o discurso preparado para explicar o que estavamos a fazer, incluindo
estarmos preparados para aguentar a tortura.
Trabalhei para o
"Office of Special Operations ” até 1989, ano em que saí da
CIA.
Para fazer face a
estes trabalhos e operações, as minhas contas dos cartões de crédito do VISA,
American Express e Dinners Club, tinham, cada uma, um planfond de 10.000 USD,
que podiam ser movimentados em caso de necessidade.
Estes cartões eram
emitidos no Brasil, em bancos estrangeiros sedeados no Brasil, como o Citibank,
o Bank of Boston ou o Bank of America.
Entre 1975 e 1989,
portanto durante cerca de 14 anos, gastei com estes cartões cerca de 10 milhões
de USD, em operações em diversos paises, nomeadamente pagando a informadores,
politicos, militares, homens de negócios, e também traficantes de armas e de
drogas, em ligação com a DEA (Drug Enforcement
Agency).
Existiram outros
valores movimentados à parte, a partir de um saco azul, “em cash”, valores
esses postos á disposição pelo chefe da estação da CIA, no local onde as
operações eram realizadas.
Este saco azul
servia para pagar despesas como viagens, compras necessárias,
etc.
Posso referir que a
operação de Camarate, que a seguir irei transcrever custou a preços de 1980
entre 750.000 e 1 milhão de USD.
Só o Sr. José
António dos Santos Esteves recebeu 200.000 USD.
Estas despesas
relacionadas com a operação de Camarate, incluiram os pagamentos a diversas
pessoas e participantes, como o Sr. Lee Rodrigues, como seguidamente irei
descrever.
Entre 1975 e 1988,
participei em vários cursos e seminários em Langley, Virginia e Quantico, pago
pela CIA, sobre informação, desinformação, contra-informação. terrorismo,
contra-terrorismo, infiltrações encobertas, etc.,
etc.
Trabalhei em
serviços de infiltração pela CIA e pela DEA (Drug Enforcement Agency), em
diferentes países, como Portugal, El Salvador, Bolívia, Colômbia,Venezuela,
Peru, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Chile, Líbano, Síria, Egipto, Argélia,
Marrocos, Filipinas.
A minha colaboração
com a DEA, iniciou-se em 1981, através de Richard Lee
Armitage.
Em 1980, Richard
Armitage viria também a estar comigo e com o Henry Kissinger em Paris, Richard
Lee Armitage era membro do CFR (Counceil for Foreign Affairs and Relations) e da
Organização e Cooperação para a Segurança da Europa (OSCE), criada pela CIA,
Richard Armitage era também membro, na altura, do Grupo Carlyle, do qual o CEO
era Frank Carlucci.
O Grupo Carlyle
dedica-se à construcção civil, imobiliário e é uma dos maiores grupos de tráfico
de armas no Mundo, junto com o Grupo Haliburton, chefiado por Richard "Dick"
Cheney.
O Grupo Carlyle
pertence a vários investidores privados dos EUA, por regra do Partido
Republicano.
Este grupo promove
nomeadamente vendas de armas, petróleo e cimento para países como o Iraque,
Afeganistão e agora para os países da primavera
árabe.
A lavagem do
dinheiro do tráfico de armas e da droga, era feito, na altura, pelo Banco BCCI,
ligado à CIA e à NSA - National Security Agency.
O BCCI foi fundado
em 1972 e fechado no princípio dos anos 90, devido aos diversos escândalos em
que esteve envolvido.
Oliver North
pertencia ao Conselho Nacional de Segurança, às ordens de william walker,
ex-embaixador dos EUA em El Salvador.
Oliver North seguiu
e segue sempre as ordens da CIA, dependente de William
Casey.
Oliver North está
hoje retirado da CIA , e é CEO de vários grupos privados americanos, tal como
Frank Carlucci.
Da DEA conheci
Celerino Castilho e Mike Levine.
Anabelle Grimm e
Brad Ayers, tendo trabalhado para a DEA entre 1975 até
1989.
Da CIA trabalhei
também com Tosh Plumbey, Ralph Megehee - tenente coronel da NSA, actualmente
reformado.
Da CIA trabalhei
ainda com Bo Gritz e Tatum.
Estes dois agentes
tinham a sua base de operações em El Salvador, (onde eu também estive durante os
anos 80, durante o tráfico Irão - Contras), desenvolvendo nomeadamente
actividades com tráfico de armas.
Uma das suas
operações consistiu no transporte de armas dos EUA para El-Salvador, que eram
depois transportadas para o Irão e a Nicarágua.
Os aviões,
normalmente panamianos e colombianos regressavam depois para os EUA com droga,
nomeadamente cocaina, proveniente de países como a Colômbia, Bolivia e El
Salvador, que serviam para financiar a compra de
armas.
Esta actividade
desenvolveu-se essencialmente desde os finais dos anos 70 até
1988.
A cocaina vinha
nomeadamente da Ilha Normans Cay, nas Bahamas, de que era proprietário Carlos
Lheder Rivas.
Carlos Rivas era um
dos chefes do Cartel de Medellin, trabalhando para este cartel e para ele
próprio.
Carlos Rivas era,
neste contexto um personagem importante, sendo o braço direito de Roberto Vesco,
que trabalhava para a CIA e para a NSA.
Roberto Vesco era
proprietário de Bancos nas Bahamas, nomeadamente o Colombus
Trust.
Carlos rivas fazia
toda a logística de Roberto Vesco e forneciam armas a troco de cocaina,
nomeadamente ao movimento de guerrilha Colombiano
M19.
Roberto Vesco está
hoje refugiado em Cuba.
O dinheiro das
operações de armas e de droga são lavadas no Banco BCCI e noutros bancos, com o
nome de código "Amadeus".
Há no entanto
contas activas nas Bahamas e em Norman's Cay, nas Ilhas Jersey, que gerem contas
bancárias, nomeadamente para o tráfico de armas para os “Contras” da Nicarágua,
e para o Irão.
Como acima referi,
muito desse dinheiro foi para bancos americanos e franceses, o que em parte
explicará porquê é que Manuel Noriega foi condenado a 60 anos de prisão, tendo
primeiro estado preso nos EUA, depois em França, e actualmente no
Panamá.
Foi preso porque
era conveniente que estivesse calado, não referindo nomeadamente que partilhava
com a CIA, o dinheiro proveniente da venda de armas e da venda de
drogas.
Noriega movimentava
contas bancárias em mais de 120 bancos, com conhecimento da
CIA.
Noriega fazia
também parte da operação "Black Eagle", dedicada ao tráfico de armas e de droga,
que em 1982 se transformou numa empresa chamada Enterprise, com a colaboração de
Oliver North e de Donald Gregg da CIA.
Em face do grau de
informações e de conhecimento que tinha, é fácil de perceber porquê se verificou
o derrube e a prisão de Noriega.
Devo dizer que
estou pessoalmente admirado que não o tenham até agora “suicidado", pois deve
ter muitos documentos ainda guardados.
Noriega tinha a
intenção de contar tudo o que sabia sobre este tráfico, nomeadamente sobre os
serviços prestados à CIA e a Bush Pai, tendo por isso sido
preso.
Washington e a CIA
são assim veículos importantes do tráfico de armas e de droga, utilizando
nomeadamente os pontos de apoio de South Flórida e do
Panamá.
No início dos anos
80 conheci um traficante do cartel de Cali, de nome Ramon Milian Rodriguez, que
depois mais tarde perante uma comissão do Senado Americano, onde falou do
tráfico de armas e de droga, do branqueamento de dinheiro, bem como das
cumplicidades de Oliver North neste tráfico às ordens de Bush Pai e do Donald
Gregg.
Muito do dinheiro
gerado nessas vendas foi para bancos americanos e
franceses.
Este dinheiro
servia também para compras de propriedades
imobiliárias.
Por estar ligado a
estas operações, Noriega foi preso pelos EUA.
Foi numa operação
de droga que realizei na Colômbia e nas Bahamas, em 1984, onde se deu a prisão
de Carlos Lheder Rivas, do Cartel de Medallin, em que eu não concordei com os
agentes da DEA da estação de Miami, pois eles queriam ficar com 10 milhões de
dólars e com o avião "lear-jet" provenientes do tráfico de
droga.
Não concordando,
participei desses agentes ao chefe da estação da DEA de
Maiami.
Este chefe
mandou-lhes então levantar um inquerito, tendo sido presos pela própria
DEA.
A partir de aí a
minha vida tornou-se num verdadeiro inferno, nomeadamente com a realização de
armadilhas, e detenções, tendo acabado por sair da CIA em 1989, a conselho de
Frank Carlucci.
O principal culpado
da minha saida da CIA e da DEA foi John C. Lawn, director da estação da DEA e
amigo de Noriega e de outros traficantes.
John Lawn encobriu,
ou tentou encobrir, todos os agentes da DEA que denunciei aquando da prisão de
Carlos Rivas.
Após a minha saida
da CIA, Frank carlucci continuou contudo a ajudar-me com dinheiro, com conselhos
e com apoio logístico, sempre que eu precisei até
1994.
Regressando contudo
à minha actividade em Portugal, anteriormente a Camarate e ao serviço da CIA,
devo referir que conheci Frank Carlucci, em 1975, através de duas pessoas: um
jornalista Português da RTP, já falecido, chamado Paulo Cardoso de Oliveira, que
conhecera em Angola, e que era agente da CIA, e Gary Van Dyk, agente da BOSS
(Sul Africana) que conheci também em Angola.
Mantive contatos
directos flequentes com Frank Carlucci, sobretudo entre 1975 e 1982, de quem
recebi instruções para varios trabalhos e operações.
Os meus contactos
com Frank Carlucci mantêm-se até hoje, com quem falo ainda ocasionalmente pelo
telefone.
A última vez que
estive com ele foi em Madrid, em 2008, na escala de uma viagem que Frank
Carlucci realizou à Turquia.
Em Lisboa, também
lidei e recebi ordens de William Hasselberg - antena da CIA em Lisboa, que além
de recolher informacões em Lisboa actua como elo de ligação entre porugueses e
americanos.
Tive inclusivamente
uma vida social com William Hasselberg, que inclui uma vida nocturna em Lisboa,
em diferentes bares, restaurantes, e locais
públicos.
William Hasselberg
gostava bastante da vida nocturna, onde tinha muito gosto em aparecer com as
suas diversas “conquistas” femininas.
Trabalhei também
com outros agentes da CIA, nomeadamente Philip Agee.
Neste ambito,
trabalhei em operações de tráfico de armas, e em infiltrações em organizações com
o objectivo de obter informações políticas e militares, “Billie” Hasselberg fala
bem português, e era grande amigo de Artur Albarran.
Hasselberg e
Albarran conheceram-se numa festa da embaixada da Colômbia ou Venezuela, tendo
Albarran casado nessa altura, nos anos 80, com a filha do embaixador, que foi a
sua primeira mulher.
Das reuniões que
tive com a embaixada americana em Lisboa, a partir de 1978, conheci vários
agentes da CIA.
O Chefe da estação
da CIA em Portugal, John Logan, oferece-me um livro seu
autografado.
Conheci também o
segundo chefe da CIA, Sr. Philip Snell, Sr. James Lowell, e o Sr.
Arredondo.
Da parte militar da
CIA conheci o Coronel Wilkinson, a partir de quem conheci o coronel Oliver North
e o Coronel Peter Bleckley.
O coronel Oliver
North, militar mas também agente da CIA e o coronel Peter Bleckley, são os
principais estrategas nos contactos internacionais, com vista ao tráfico e venda
de armas, nomeadamente com países como Irão, Iraque, Nicarágua, e o El
Salvador.
Na sequência do
conhecimento que fiz com Oliver North, tendo várias reuniões com ele e com
agentes da CIA, por causa do tráfico e negócio de
armas.
Estas reuniões têm
lugar em vários países, como os EUA, o México, a Nicarágua, a Venezuela, o
Panamá.
Neste último país
contacto com dois dos principais adjuntos de Noriega, José Bladon, chefe dos
serviços secretos do Panamá, que me disse que práticamente todos os embaixadores
do Panamá em todo o Mundo estavam ao serviço de
Noriega.
Blandon pediu-me na
altura se eu arranjava um Rolls Royce Silver Spirits, para o embaixador do
Panamá em Lisboa, o que acabei por conseguir.
Em meados de 1980,
Frank Carlucci refere-me, por alto, e pela primeira vez, que eu iria ser
encarregue de fazer um "trabalho" de importância máxima e prioritária em
Portugal, com a ajuda dele, da CIA, e da Embaixada dos EUA em Portugal, sendo-me
dado, para esse efeito, todo o apoio necessário.
Tenho depois
reuniões em Lisboa, com o agente da CIA, Frank Sturgies, que conheço pela
primeira vez.
Frank Sturgies é uma
pessoa de aspecto sinistro e com grande frieza, e é organizador das forças
anti-castristas, sediadas em Miami, e é elo de ligação com os "contra" da
Nicarágua.
Frank Sturgies
refere-me então, que está em marcha um plano para afastar, definitivamente,
(entenda-se eliminar) uma pessoa importante, ligada ao Governo Português de
então, sem dizer contudo ainda nomes.
Algum tempo depois,
possívelmente em Setembro ou Outubro de 1980, jogo ténis com Frank Carlucci
quase toda a tarde, na antiga residência do embaixador dos EUA, na
Lapa.
Janto depois com
ele, onde Frank Cartucci refere novamente que existem problemas em Portugal para
a venda e transporte de armas, e que Francisco Sá Carneiro não era uma pessoa
querida dos EUA.
Depois já na
sobremesa, juntam-se a nós o Gen. Diogo Neto, o Cor. Vinhas, o Cor. Robocho Vaz
e Paulo Cardoso, onde se refere novamente a necessidade de se afastarem alguns
obstáculos existentes ao negócio de armas.
Todos estes
elementos referem a Frank Caducci que eu sou a pessoa indicada para a preparação
e implementação desta operação.
Em Outubro de 1980,
num juntar no Hotel Sharaton onde participo eu, Frank Sturgies (CIA), Vilfred
Navarro (CIA), o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas (já falecidos), onde se
refere que há entraves ao tráfico de armas que têm de ser
removidos.
Depois há um outro
jantar também no Hotel Sharaton, onde participam, entre outros, eu e o Cor.
Oliver North, onde este diz claramentete que "é preciso limar algumas arestas" e
"se houver necessidade de se tirar aguém do caminho, tira-se", dando portanto a
entender que haverá que eliminar pessoas que criam problemas aos negócios de
venda de armas.
Oliver North diz-me
também que está a ter problemas com a sua própria organização, e que teme que o
possam querer afastar e "deixar cair", o que acabou por
acontecer.
Há também
Portugueses que estavam a beneficiar com o tráfico de armas, como o Major Canto
e Castro, o Gen. Pezarat Correia, Franco Charais e o empresário
Zoio.
Sabe-se também já
nessa altura que Adelino Amaro da Costa estava a tentar acabar com o tráfico de
armas, a investigar o fundo de desenvolvimento do Ultramar, e a tentar acabar
acabar com lobbies instalados.
Afastar essas duas
pessoas pela via política era impossível, pois a AD tinha ganho as
eleições.
Restava portanto a
via de um atentado.
Passados alguns
dias, recebo um telefonema do Major Canto e Castro (pertencente ao conselho da
revolução), que eu já conhecia de Angola, pedindo para eu me encontrar com ele
no Hotel Altis.
Nessa reunião está
também Frank Sturgies, e fala-se pela primeira vez em "atentado", sem se
referirem ainda quem é o alvo.
Referem que contam
comigo para esta operação.
O Major Canto e
Castro diz que é preciso recrutar alguém capaz de realizar esta
operação.
Tenho depois uma
segunda reunião no Hotel Altis com Frank Sturgies e Philip Snell, onde Frank
Sturgies me encarrega de preparar e arranjar alguns operacionais para uma
possível operação dentro de pouco tempo, possívelmente dentro de 2 ou 3
meses.
Perguntam-me se já
recrutei a pessoa certa para realizar este atentado, e se eu conheço algum
perito na fabricação de bombas e em armas de fogo.
Respondo que em
Espanha arranjaria alguém da ETA para vir cá fazer o atentado, se tal fosse
necessário.
Quem paga a operação
e a preparação do atentado é a CIA e o Major Canto e
Castro.
Canto e Castro
colabora na altura com os serviços Secretos Franceses, para onde entrou através
do sogro na época.
O sogro era de
nacionalidade Belga, que trabalhava para a SDEC, os serviços de inteligência
franceses, em 1979 e 1980.
Canto e Castro casou
com uma das suas filhas, quando estava em Luanda, em Angola, ao serviço da Força
Aérea Portuguesa.
Em Luanda, Canto e
Castro vivia perto de mim.
Tendo que organizar
esta operação, falo então com José Esteves e mais tarde com Lee Rodrigues (que
na altura ainda não conhecia).
O elo de ligação de
Lee Rodrigues em Lisboa era Evo Fernandes, que estava ligado à resistância
moçambicana, a Renamo.
Falo nessa altura
também com duas pessoas ligadas à ETA militar, para caso do atentado ser
realizado através de armas de fogo.
Depois, noutro
jantar em casa de Frank Carlucci, na Lapa, na mansarda, no último andar, onde
jantamos os dois sozinhos, Frank Carlucci diz abertamente e pela primeira vez, o
que eu tinha de fazer, qual era a operação em curso e que esta visava Adelino
Amaro da Costa, que estava a dificultar o transporte e venda de armas a partir
de Portugal ou que passavam em Portugal, e que havia luz verde dada por Henry
Kissinger e Oliver North.
Cumprimento ambos,
referindo que sou "o homem deles em Lisboa".
Três semanas antes
dos atentado, Canto e Castro e Frank Sturgies, referem pela primeira vez, que o
alvo do atentado é Adelino Amaro da Costa.
O Major Canto e
Castro afirma que irá viajar para Londres.
Frank Sturgies
pede-me que obtenha um cartão de acesso ao aeroporto para um tal Lee Rodrigues,
que é referido como sendo a pessoa que levará e colocará a bomba no
avião.
Recebo depois um
telefonema de Canto e Castro, referindo que está em Londres e para eu ir ter lá
com ele.
Refere-me que o meu
bilhete está numa agência de viagens situada na Av. da Republica , junto à
pastelaria Ceuta.
Chegado a Londres
fico no Hotel Grosvenor, ao pé de Victoria Station.
Canto e Castro vai
buscar-me e leva-me a uma casa perto do Hotel, onde me mostra pela primeira vez,
o material, incluindo explosivos, que servirão para confeccionar a "bomba" nesta
operação.
Essa casa em
Londres, era ao mesmo tempo residência e consultório de um dentista indiano,
amigo de Canto e Castro, Canto e Castro refere-me que esse material será levado
para Portugal pela sua companheira Juanita
Valderrama.
O Major Canto e
Castro pede-me então que vá ao Hotel Altis recolher o
material.
Vou então ao Hotel
acompanhado de José esteves, e recebemos uma mala e uma carta da senhora
Juanita, José Esteves prepara então uma bomba destinada a um avião, com esses
materiais, com a ajuda de Carlos Miranda.
O Major Canto e
Castro volta depois de Londres, encontra-se comigo, e digo-lhe que a bomba está
montada.
Lee Rodrigues é-me
apresentado pelo Major Canto e Castro.
Alguns dias depois
Lee Rodrigues telefona-me e encontramo-nos para jantar no restaurante Galeto,
junto ao Saldanha, juntamente com Canto e Castro, onde aparece também Evo
Fernandes, que era o contacto de Lee Rodrigues em
Lisboa.
Fora Evo Fernandes
que apresentara Lee Rodrigues a Canto e Castro.
Lee Rodrigues era
moçambicano e tinha ligações à Renamo.
Nesse jantar
alinham-se pormenores sobre o atentado.
Canto e Castro
refere contudo nesse jantar que o atentado será realizado em
Angola.
Perante esta
afirmação, pergunto se ele está a falar a sério ou a brincar, e se me acha com
“cara de palhaço"- fazendo intenção de me levantar.
Refiro que, através
de Frank Carlucci, já estava a par de tudo.
Lee Rodrigues pede
calma, referindo depois Canto e Castro que desconhecia que eu já estava a par de
tudo, mas que sendo assim nada mais havia a
esconder.
Possivelmente em
Novembro, é-me solicitado por Philip Snell que participe numa reunião em
Cascais, num iate junto á antiga marina (na altura não existia a actual
marina).
Vou e levo comigo
José Esteves.
Essa reunião tem
lugar entre as 20 e as 23 horas, nela participando Philips Snell, Oliver North,
Frank Sturgies, Sydral e Lee Rodrigues e mais cerca de 2 ou 3 estrangeiros, que
julgo serem americanos.
Nesta reunião é
referido que há que preparar com cuidado a operação que será para breve, e
falam-se de pormenores a ter em atenção.
É referido também os
cuidados que devem ser realizados depois da operação, e o que fazer se algo
correr mal.
A língua utilizada
na reunião é o inglês.
José Esteves recebeu
então USD 200.000 pelo seu futuro trabalho.
Eu não recebi nada
pois já era pago normalmente pela CIA.
Eu nessa altura
recebia da CIA o equivalente a cinco mil US Dólares, dispondo também de dois
cartões de crédito Diner's Club e Visa Gold, ambos com plafonds de 10.000 US
Dólares.
ee Rodrigues pede-me
então que arranje um cartão para José Esteves entrar no
aeroporto.
Para este efeito,
obtenho um cartão forjado, na Mouraria, em Lisboa, numa tipografia que hoje já
não existe.
Lee Rodrigues diz-me
também que irá obter uma farda de piloto numa loja ao pé do Coliseu, na Rua das
Portas de Santo Antão.
A meu pedido, João
Pedro Dias, que era carteirista, arranja também um cartão para Lee
Rodrigues.
Este cartão foi
obtido por João Pedro Dias, roubando o cartão de Miguel Wahnon, que era
funcionário da TAP.
Apenas foi
necessário mudar-se a fotografia desse cartão, colocando a fotografia de Lee
Rodrigues.
José Esteves prepara
então na sua casa no Cacém, um engenho para o
atentado.
Conta com a
colaboração de outro operacional chamado Carlos Miranda, especialista em
explosivos, que é recrutado por mim, e que eu já conhecia de Angola, quando
Carlos Miranda era comandante da FNLA e depois CODECO em
Portugal.
José Esteves foi
também um dos principais comandantes da FNLA, indo muitas vezes a
Kinshasa.
Depois do artefacto
estar pronto, vou novamente a Paris.
o Hotel Ritz, à
tarde, tenho um encontro com Oliver North, o cor. Wilkison e Philip Snell, onde
se refere que o alvo a abater era Adelino Amaro da Costa, Ministro da
Defesa.
Volto a Portugal,
cerca de 5 ou 6 dias antes do atentado.
É marcado por Oliver
North um jantar no hotel Sheraton.
Nesse jantar aparece
e participa um indivíduo que não conhecia e que me é apresentado por Oliver
North , chamado Penaguião.
Penaguião afirma ser
segurança pessoal de Sá Carneiro.
Oliver North refere
que Penaguião faz parte da segurança pessoal de Sá Carneiro e que é o homem que
conseguirá meter Sá Carneiro no Avião.
Penaguião afirma, de
forma fria e directa que Sá Carneiro também iria no avião, "pois dessa forma
matavam dois coelhos de uma cajadada!"
Afirma que a sua
eliminação era necessária, uma vez que Sá Carneiro era anti-americano, e apoiava
incondicionalmente Adelino Amaro da Costa na denúncia do tráfico de armas, e na
descoberta do chamado saco azul do Fundo de Defesa do Ultramar, pelo que tudo
estava, desde o início, preparado para incluir as duas
pessoas.
Francisco Sá
Carneiro e Adelino Amaro da Costa.
Fico muito nervoso,
pois só nesse momento fiquei a conhecer a inclusão de Sá Carneiro no
atentado.
Pergunto a Penaguião
como é que ele pode ter a certeza de que Sá Carneiro irá no avião, ao que
Penaguião responde de que eu não me preocupasse pois que ele, com mais alguém,
se encarregaria de colocar Sá Carneiro naquele avião naquele dia e naquela hora,
pois ele coordenava a segurança e a sua palavra era sempre
escutada.
No final do jantar,
juntam-se a nós três o Gen. Diogo Neto e o Cor.
Vinhas.
Fico estarrecido com
esta nova informação sobre Sá Carneiro, e decido ir, nessa mesma noite, à
residência do embaixador dos EUA, na Lapa, onde estava Frank Carlucci, a quem
conto o que ouvi.
Frank Carlucci
responde que não me preocupasse, pois este plano já estava determinado há muito
tempo.
Disse-me que o homem
dos EUA era Mário Soares, e que Sá Carneiro, devido à sua maneira de ser,
teimoso e anti-americano, não servia os interesses estratégicos dos
EUA.
Mário Soares seria o
futuro apoio da política americana em Portugal, junto com outros lideres do PSD
e do PS.
Aceito então esta
situação, uma vez que Frank Carlucci já me havia dito antes que tudo estava
assegurado, inclusivamente se algo corresse mal, como a minha saída de Portugal,
a cobertura total para mim e para mais alguém que eu indicasse, e que pudesse
vir a estar em perigo.
Isto e a usual
“realpolitik" dos Estados Unidos, e suspeito que sempre
será.
Três dias antes do
atentado há uma nova reunião, na Rua das Pretas no Palácio Roquete, onde
participam Canto e Castro, Farinha Simões, Lee Rodrigues, José Esteves e Carlos
Miranda
Carlos Miranda
colaborou na montagem do engenho explosivo com José Esteves, tendo ido várias
vezes a casa de José Esteves.
Nessa reunião são
acertados os últimos pormenores do atentado.
Nessa reunião, Lee
Rodrigues diz que ele está preparado para a operação e Canto e Castro diz que o
atentado será a 3 ou 4 de Dezembro.
Nessa reunião é dito
que o alvo é Adelino Amaro da Costa.
No dia seguinte
encontramo-nos com Canto e Castro no Hotel Sheraton, e vamos jantar ao
restaurante " O Polícia".
No dia 4 de
Dezembro, telefono de um telefone no Areeiro, para o Sr. William Hasselberg, na
Embaixada dos EUA, para confirmar que o atentado é para realizar, tendo-me este
referido que sim.
Desse modo, à tarde,
José Esteves traz uma mala a minha casa, e vamos os dois para o
aeroporto.
Conduzo José Esteves
ao aeroporto, num BMW do José Esteves.
Já no aeroporto,
José Esteves e eu entramos no aeroporto, por uma porta lateral, junto a um posto
da Guarda Fiscal, utilizando o cartão forjado, anteriormente
referido.
Depois José Esteves
desloca-se e entrega a mala, com o engenho, a Lee Rodrigues, que aparece com uma
farda de piloto e é também visto por mim.
Depois de cerca de
15 minutos, sai já sem a mala, e sai comigo do
aeroporto.
Separamo-nos, mas
mais tarde José esteves encontra-se novamente comigo no cabeleireiro Bacta, no
centro comercial Alvalade.
Depois José esteves
aparece em minha casa com a companheira da época, de nome Gina, e com um saco de
roupa para lá ficar por precaução.
Ouvimos depois o
noticiário das 20 horas na televisão, e José Esteves fica muito surpreendido,
pois não sabia que Sá Carneiro também ia no avião.
4º
PARTE
Afirma que fomos
enganados!
Telefona então para
Lencastre Bernardo, que tinha grandes ligações à PJ e à PJ Militar, e uma
Ligação ao General Eanes, Lencastre Bernardo tem também ligações a Canto e
Castro, Pezarat Correia, Charais, ao empresário Zoio a José António Avelar que
era ex-braço direito de Canto e Castro.
José Esteves
telefona-lhe, e pede para se encontrar com ele.
Este aceita, pelo
que, pelas 23 horas, José Esteves, eu, e a minha mulher Elza, dirigimo-nos para
a Rua GomesFreire, na PJ, para falar com ele.
Esteves sobe para
falar com Lencastre Bernardo que lhe tinha dito que não se preocupasse, pois
nada lhe sucederia.
Passámos contudo por
casa de José Esteves pois este temia que aí houvesse já um conjunto de polícias
à sua procura, devido a considerarem que ele estava associado à queda do avião
em camarate.
José Esteves ficou
assim aliviado por verificar que não existia aparato policial à porta de sua
casa.
A quem manifestei o
meu desconhecimento e ter ficado chocado por ter sabido, depois de o avião ter
caído, que acompanhantes e familiares do Primeiro Ministro e do Ministro da
Defesa também tinham ido no Avião.
Frank Carlucci
respondeu-me que compreendia a minha posição, mas que também ele desconhecia que
iriam outras pessoas no avião, mas que agora já nada se podia
fazer.
Em 1981, encontro-me
com Victor Pereira, na altura agente da Polícia Judiciaria, no restaurante
Galeto, em Lisboa.
Conto a Victor
Pereira que alguns dos atentados estão atribuidos às Brigadas Revolucionárias,
relacionados com a colocação de bombas, foram porém efectuadas pelo José
Esteves, como foram os casos dos atentados à bomba na Embaixada de Angola, de
Cuba (esta última com conhecimento de Ramiro Moreira), na casa de Torres Couto,
na casa do prof. Diogo Freitas do Amaral, na casa do Eng. Lopes Cardoso, e na
casa de Vasco Montez, a pedido deste, junto ao Jumbo em Cascais, para obter
"sensacionalismo" á época, tendo José Esteves espalhado panfletos iguais aos da
FP25.
Não falei então com
Victor Pereira Com camarate.
Tomei conhecimento
no entanto que Victor Pereira, no dia 4 de Dezembro de 1980, tendo ido nessa
noite ao Aeroporto da Portela, como agente da PJ, encontrou a mala que era
transportada pelo Eng. Adelino Amaro da Costa.
Nessa mala estavam
documentos referentes ao tráfico de armas e de pessoas envolvidas com o Fundo de
Defesa do Ultramar.
Salvo erro, Victor
Pereira entregou essa mala ao inspector da PJ Pedro Amaral, que por sua vez a
entregou na PJ.
Disse-me então
Victor Pereira que essa mala, de maior importância no caso de Camarate, pelas
informações que continha, e que podiam explicar os motivos e as pessoas por
detrás deste atentado, nunca mais voltou a aparecer.
Esta informação
foi-me transmitida por Victor Pereira, quando esteve preso comigo na prisão de
Sintra, em 1986.
Não referi então a
Victor Pereira que, como descrevo a seguir, eu tinha já tido contacto com essa
mala, em finais de 1982, pelo facto de trabalhar com os serviços secretos na
Embaixada dos EUA.
Também em 1981, uns
meses depois do atentado, eu e o José Esteves fomos ter com o Major Lencastre
Bernardo, na Polícia Judiciária, na Rua Gomes
Freire.
Com efeito, tanto o
José Esteves como eu, andávamos com medo do que nos podia suceder por cusa do
nosso envolvimento no atentado de Camarate, e queriamos saber o que se passava
com a nossa protecção por causa de Camarate.
Eu não participo na
reunião, fico à porta.
Contudo José Esteves
diz-me depois que nessa conversa Lencastre Bernardo lhe referiu que, numa
anterior conversa com Francisco Pinto Balsemão, este lhe havia dito ter tido
conhecimento prévio do atentado de Camarate, pois em Outubro de 1980, Kissinger
o informou de que essa operação ia ocorrer.
Disse-lhe também que
ele próprio tinha tido conhecimento prévio do atentado de
Camarate.
Disse-lhe ainda que
podíamos estar sossegados quanto a Camarate, pois não ia haver problemas
connosco, pois a investigação deste caso ia morrer sem
consequências.
*** A este respeito
gostaria de acrescentar que numa reunião que tive, a sós, em 1986, com Lencastre
Bernardo, num restaurante ao pé do ediflcio da PJ na Rua Gomes Freire, ele
garantiu-me que Pinto Balsemão estava a par do que se ia passar em 4 de
Dezembro.***
No restaurante
Fouchet's, em Paris, Kissinger tinha-me dito, “por alto”, que o futuro Primeiro
Ministro de Portugal seria Pinto Balsemão.
É importante referir
que tanto Henry Kissinger como Pinto Balsemão eram já, em 1980, membros
destacados do grupo Bilderberg, sendo certo que estas duas pessoas levavam
convidados às reuniões anuais desta organização.
Deste modo, aquando
da conversa com Lencastre Bernardo, em 1986, relacionei o que ele me disse sobre
Pinto Balsemão, com o que tinha ouvido em Paris, em
l980.
Tive também esta
informação, mais tarde, em 1993, numa conversa que tive com William Hasselberg,
em Lisboa,quando este me confirmou de que Pinto Balsemão estava a par de
tudo.
Em finais de 1982,
pelas informações que vou obtendo na Embaixada dos EUA, em Lisboa, verifico que
se fala de nomes concretos de personalidades americanas como tendo estado
envolvidas em tráfico de armas que passava por
Portugal.
Pergunto então a
William Hasselberg como sabem destes nomes. Ao fim de muitas insistências
minhas, William Hasselberg acaba por me dizer que a Pj entregou, na embaixada
dos EUA, uma mala com os documentos transportados por Adelino Amaro da Costa, em
4 de Dezembro de 1980, e que ficou junto aos destroços do avião, embora não me
tenha dito quem foi a pessoa da PJ que entregou esses
documentos.
Peço então a William
Hasselberg que me deixe consultar essa mala, uma vez que faço também parte da
equipa da CIA em Portugal.
Ele aceita, e pude
assim consultar os documentos aí existentes. que consistiam em cerca de 200
páginas.
Pude assim consultar
este Dossier durante cerca de uma semana, tendo-o lido várias vezes, e resumido,
à mão, as principais partes, uma vez que não tinha como fotografá-lo ou
copiá-lo.
Vejo então, que
apesar do desastre do avião, e da pasta de Avelino Amaro da Costa ter ficado
queimada, e ter sido substituida por outra, os documentos estavam
intactos.
Estes documentos
continham uma lista de compra de armas, que incluia nomeadamente RPG-7, RPG-27,
G3, lança granadas, dilagramas, munições, granadas, minas, rádios, explosivos de
plástico, fardas, kalashiskovs AK-47 e obuses.
Referia-se também
nesses documentos que para se iludir as pistas, as vendas ilegais de armas eram
feitas através de empresas de fachada, com os caixotes a referir que a carga se
tratava de equipamentos técnicos, e peças sobresselentes para maquinas agrículas
e para a construção civil.
Esta forma de
transportar armas foi-me confirmada várias vezes por Oliver North, no decorrer
da década de 80, até 1988, e quando estive em Ilopango, em El Salvador, também
na década de 80, verifiquei que era verdade.
Nestes documentos
lembro-me de ver que algumas armas vinham da empresa portuguesa Braço de Prata,
bem como referências de vendas de armas de Portugal e de paises de Leste, como a
Polónia e a Bulgária, com destino para a Nicarágua, Irão, El Salvador, Colombia,
Panamá, bem como para alguns países Africanos que estavam em guerra, como
Angola, ANC da África do Sul, Nigéria, Mali, Zimbawe, Quénia, Somália, Líbia,
etc.
Está também
claramente referido nesses documentos que a venda de armas é feita atraves da
empresa criada em Portugal chamada "Supermarket" (que operava através da empresa
mãe "Black - Eagle").
Nos referidos
documentos ví também que as vendas de armas eram legais através de empresas
portuguesas, mas também havia vendas de armas ilegais feitas por empresas de
fachada, com a lavagem de dinheiro em bancos suíços e "off-shores" em nome dos
detentores das contas, tanto pessoas civis como
militares.
As vendas ilegais de
armas ocorriam por várias razões, nomeadamente:
*Em primeiro lugar
muitos dos paises de destino, tinham oficialmente sanções e embargos de
armas.
* Em segundo lugar
os EUA não queriam oficialmente apoiar ou vender armas a certos países,
nomeadamente aos contra da Nicarágua, ou ao Irão e ao Iraque, a quem vendiam
armas ao mesmo tempo, e sem conhecimento de ambos.
* Em terceiro lugar
a venda de armas ilegal é a mais rentável e foge aos
impostos.
* Em quarto lugar a
venda de armas ilegal permite o branqueamento de capitais, que depois podiam ser
aproveitados para outros fins.
Entre os nomes que
vi referidos nestes documentos figuravam:
- José Avelino
Avelar
- Coronel
Vinhas
- General Diogo
Neto
- Major Canto e
Castro
- Empresário
Zoio
- General Pezarat
Correia
- General Franco
Charais
- General Costa
Gomes
- Major Lencastre
Bernardo
- Coronel Robocho
Vaz
- Francisco Pinto
Balsemão
Francisco Balsemão e
Lencastre Bernardo eram referidos como elementos de ligação ao grupo Bildeberg e
a Henry Kissinger, Francisco Balsemão pertence também à loja maçónica "Pilgrim",
que é anglo-saxónica, e dependente do grupo
Bildeberg.
Lencastre Bernardo
tinha também assinalado a sua ligação a alguns serviços de inteligência, visto
ele ser, nos anos 80, o coordenador na PJ e na Polícia Judiciária
Militar.
Entre as empresas
Portuguesas que realizavam as vendas de armas atrás referidas, entre os anos
1974 e 1980, estavam referidas neste Dossier:
- Fundição de Oeiras
(morteiros, obuses e granadas)
- Cometna (engenhos
explosivos e bombas)
- OGMA (Oficinas
Gerais Militares de Fardamento e OGFE (Oficinas de Fardamento do
Exercito)
- Browning Viana
S.A.
- A. Paukner Lda,
que existe desde 1966
- Explosivos da
trafaria
- SPEL
(Explosivos)
- INDEP (armamento
ligeiro e monições)
- Montagrex Lda, que
actuava desde 1977, com Canto e Castro e António José
Avelar.
Só foi contudo
oficialmente constituida em 1984, deixando, nessa altura, Canto e Castro de
fora, para não o comprometer com a operação de
Camarate.
A Montagrex Lda
operava no Campo Pequeno, e era liderada por António Avelar que era o braço
direito de Canto e Castro e também sócio dessa
empresa.
O escritório dessa
empresa no Campo Pequeno é um autentico “bunker", com portas blindadas,
sensores, alarmes, códigos nas portas, etc.
Canto e Castro e
António Avelar são também sócios da empresa inglesa BAE - Systems, sediada no
Reino Unido.
Esta empresa vende
sistemas de defesa, artilharia, mísseis, munições, armas submarinas, minas e
sobretudo sistemas de defesa anti-mísseis para
barcos.
Todos estes negócios
eram feitos, na sua maior parte, por ajuste directo, através de brokers -
intermediarios, que recebiam as suas comissões, pagas por oficiais do Exército,
Marinha, Aeronáutica, etc.
Nestes documentos
era referido que, como consequência desta vendas de armas, gerava-se um fluxo
considerável de dinheiro, a partir destas exportações, legais e
ilegais.
Estes documentos
referiam também a quem eram vendidas estas armas, sobretudo a países em guerra,
ou ligados ao terrorismo internacional.
Era também referido
que todas estas vendas de armas eram feitas com a conivência da autoridade da
época, nomeadamente militares como o General Costa Gomes, o General Rosa
Coutinho (venda de armas a Angola) e o próprio Major Otelo Saraiva de Carvalho
(venda de armas a Moçambique).
Vi várias vezes o
nome de Rosa Coutinho nestes documentos, que nas vendas de armas para Angola
utilizava como intermediário o general reformado angolano, José Pedro Castro,
bastante ligado ao MPLA, que hoje dispõe de uma fortuna avaliada em mais de 500
milhões de USD, e que dividia o seu tempo entre Angola, Portugal e
Paris.
O seu filho, Bruno
Castro é director adjunto do Banco BIC em Angola.
No referido dossier
estavam também referidos outros militares envolvidos neste negócio de armas,
nomeadamente o Capitão Dinis de Almeida, o Coronel Corvacho, o Varela Gomes e
Carlos Fabião.
Todas estas pessoas
obtinham lucros fabulosos com estes negócios, muitas vezes mesmo antes do 25 de
Abril de 1974 e até 1980.
Era referido que
estas pessoas, nomeadamente militares, que ajudavam nesta venda de armas,
beneficiavam através de comissões que recebiam.
Estavam referidos
neste Dossier os nomes de "off-shores", que eram usadas para pagar comissões às
pessoas atrás referidas e a outros estrangeiros, por Oliver North ou por outros
enviados da CIA.
Estas "off-shores"
detinham contas bancárias, sempre numeradas.
Esta referência
batia certo com o que Oliver North sempre me contou, de que o negócio das armas
se proporciona através de "off-shores" e bancos controlados para a lavagem de
dinheiro.
Vale a pena a este
respeito referir que no negócio das armas, empresas do sector das obras públicas
aparecem frequentemente associadas, como a Haliburton, a Carlyle, ou a
Blackwater (empresa de armas, construção e mercenários), entre
outras.
Esta relação está
referida, há anos, em vários relatórios, nomeadamente nos relatórios do Bribe
Payer Index (indice internacional dos pagadores de subornos), que é uma agencia
americana.
A indicação deste
tipo de práticas foi desenvolvida mais tarde, pela Transparency International e
pelo Comité Norte Americanos de Coordenação e Promoção do Comercio do Senado
Americano, que referem que há muitos anos, mais de 50% do negócio e comercio de
armas em Portugal, é feito através de subornos.
Os americanos sempre
usaram Portugal para o tráfico de armas, fazendo também funcionar a Base das
Lajes, nos Açores, para este efeito, nomeadamente depois de 1973, aquando da
guerra do Yom Kippur, entre Israel e os países
árabes.
Este tráfico de
armas deu origem a várias contrapartidas financeiras, nomeadamente através da
FLAD, que foi usada pela CIA para este efeito.
A FLAD recebeu
diversos fundos específicos para a requalificação de recursos
humanos.
Não ví contudo neste
Dossier observações referindo que estas vendas de armas eram condenáveis ou que
tinham efeitos negativos.
Havia contudo uma
pequena nota, em que algumas folhas de que se devia tomar cuidade com tudo o que
aí estava escrito, e que portanto se devia actuar.
Havia também na
primeira página um carimbo que dizia "confidentical and
restricted".
Estas vendas de
armas continuaram contudo depois de 1980.
Tanto quanto eu sei,
estas vendas de armas continuaram a ser realizadas até 2004, embora com um
abrandamento importante a partir de 1984, a partir do escandalo das fardas
vendidas à Polónia.
No referido Dossier
estavam também referidas personalidades americanas envolvidas no negócio de
armas, nomeadamente Bush (Pai), Dick Cheney, Frank Carlucci, Donald Gregg,
vários militares, bem como a empresas como a
Blackwater.
São ainda referidas
empresas ligadas aos EUA, como a Carlyle, Haliburton, Black Eagle Enterprise,
etc, que estavam a usar Portugal para os seus fins, tanto pela passagem de armas
através de portos portugueses, como pelo fornecimento de armas a partir de
empresas portuguesas.
Tirei apontamentos
desses documentos, que ainda hoje tenho em meu
poder.
A empresa atrás
referida, denominada "Supermarket", foi criada em Portugal em 1978, e operava
através da Empresa-Mãe, de nome "Black-Eagle", dirigida por William Casey,
membro do CFR (Counceil for Foreign Affairs and Relations), ex-embaixador dos
EUA nas Honduras e também com ligações à CIA.
A empresa
"Supermarket" organizava a compra de armas de fabrico soviético, através de
Portugal, bem como a compra de armas e munições portuguesas, referidas
anteriormente, com toda a cumplicidade de Oliver
North.
Estas armas iam para
entrepostos nas Honduras, antes de serem enviadas para os seus destinos
finais.
Oliver North pagou
muitas facturas destas compras em Portugal, através de uma empresa chamada
Gretsh World, que servia de fachada à "Supermarket".
Mais tarde, cerca de
1985, quando se começou a falar muito de Camarate, Oliver North cancelou a
operação "Supermarket" e fechou todas as contas
bancárias.
Devo ainda referir
que William Hasselberg e outros americanos da embaixada dos EUA, em Lisboa,
comentaram comigo, várias vezes o que estava escrito neste
Dossier.
Relativamente a
Hasselberg isso era lógico, pois foi ele que me deu o Dossier a
ler.
Posteriormente
comentei também o que estava escrito neste Dossier com Frank Carlucci, que
obviamente já tinha conhecimento da informação nele
contida.
Tanto William
Hasselberg, como membro da CIA, como outros elementos da CIA atrás referidos e
outros, comentaram várias vezes comigo o envolvimento da CIA na operação de
Camarate e neste negócio de armas.
Lembro-me
nomeadamente que quando alguém da CIA, me apresentava a outro elemento da Cia,
dizia frequentemente "this is the portuguese guy, the one from Camarate, the
case in Portugal with the plane!".
As vendas de armas,
a partir e através de portugal, foram realizadas ao longo desses anos, pois era
do interesse politico dos EUA.
A CIA organizou e
implementou estas vendas de armas em Portugal, à semelhança do que sucedeu
noutros países, pois era crucial para os EUA que certas armas chegassem aos
países referidos, de forma não oficial, tendo para isso utilizados militares e
empresários Portugueses, que acabaram também por beneficiar dessas
vendas.
Como anteriormente
referi, William Casei e Oliver North estavam, nas décadas de 70 e 80 conluiados
com o presidente Manuel Noriega, no escandalo Irão - contras
(Irangate).
Foi sempre Oliver
North que se ocupou da questão dos reféns americanos no Irão, bem como da
situação da America Central.
Recebeu pessoalmente
por isso uma carta de agradecimentos de George Bush Pai, Vice Presidente à época
de Ronald Reagan.
Devo dizer a este
respeiro que John Bush, filho de Bush Pai, então com 35 anos, a viver na
Flórida, pertencia em 1979 e 1980 ao “Condado de Dade", que era e é uma
organização republicana, situada em South Florida, destinada a angariar fundos
para as campanhas eleitorais republicanas.
John Bush era um dos
organizadores de apoios financeiros para os "contra" da
Nicarágua.
Conheci também
Monzer Al Kasser um grande traficante de armas que tinha uma casa em Puerto
Banus em Marbella, e que me foi apresentado, em Paris, por Oliver North, em
1979.
Era um dos grandes
vendedores de armas para os “Contra” na Nicarágua, trabalhando simultaneamente
para os serviços secretos sírios, búlgaros e
polacos.
Na sua casa em
Marbella, referiu-me também que, por vezes, o tráfico de armas era feito através
de África, para que no Iraque não se apercebessem da sua proveniência, pois
também vendiam ao mesmo tempo ao Irão e mesmo a
Portugal.
Este tráfico de
armas, que estava em curso, desde há vários anos, em 1980, e no começo do caso
Camarate.
Através de Al Kasser
conheci, em Marbella, no final de 1981, outro famoso traficante de armas, numa
festa em casa de Monzer, que se chamava Adrian
Kashogi.
Kashogi, como pude
testemunhar em sua casa, tinha relações com políticos e empresários europeus,
árabes e africanos, por regra ligados ao tráfico de armas e
drogas.
Sou preso em 1986,
acusado de tráfico de drogas.
Esta prisão foi uma
armadilha montada pela DEA, por elementos que nessa organização não gostavam de
mim, por eu ter levado à detenção de alguns deles, como referi
anteriormente.
Fui então levado
para a prisão de Sintra.
Estou na prisão com
o Victor Pereira, que aí também estava preso.
Sei, em 1986, que
estavam a preparar para me eliminar na prisão, pelo que peço à minha mulher
Elza, para ir falar, logo que possível com Frank
Carlucci.
Em consequência
disso recebo na prisão a visita de um agente da CIA, chamado Carlston,
juntamente com outro americano.
Estes, depois de
terem corrompido a direcção da prisão, incluindo o director, sub-director e
chefe da guarda, bem como um elemento que se reformou muito recentemente, da
Direcção Geral dos serviços Prisionais, chamada Maria José de Matos, conseguem a
minha fuga da prisão.
Contribui ainda para
esta minha fuga, mediante o recebimento de uma verba elevada, paga pelos
referidos agentes americanos esta directora-adjunta da Direcção Geral dos
Serviços Prisionais.
Estes agentes
americanos obtêm depois um helicóptero, que me transporta para a Lousã, onde
fico cerca de 20 dias.
Vou depois para
Madrid, com a ajuda dos americanos, e depois daí para o
Brasil.
As despesas com a
minha fuga da prisão custaram € 25.000 Euros, o que na época era uma quantia
elevada.
Só mais tarde no
Brasil, depois de 1986, é que referi a José Esteves que sabia que Sá Carneiro ia
no avião, contando-lhe a história toda.
José esteves,
responde então, que nesse caso, tínhamos corrido um grande
risco.
Eu tranquilizei-o,
referindo que sempre o apoiei e protegi neste
atentado.
Dei-lhe apoio no
Brasil no que pude.
Assegurei-lhe também
o transporte para o Brasil, obtendo-lhe um passaporte no Governo Civil de
Lisboa, entreguei-lhe 750 contos que me foram dados para esse efeito pela
embaixada dos EUA, em Lisboa, e arranjei-lhe o bilhete de avião de Madrid para o
Rio de Janeiro .
Na viagem de Lisboa
para Madrid, José Esteves foi levado por Victor Moura, um amigo
comum.
No Rio de Janeiro
ajudei-o a montar uma loja, numa roulote.
Como trabalhava
ainda para a embaixada dos EUA, em Lisboa, estas despesas foram suportadas pela
Embaixada.
Ficou no Brasil
cerca de dois anos.
Eu, contudo andava
constantemente em viagem.
José Esteves recebe
depois um telefonema de Francisco Pessoa de Portugal, onde Francisco Pessoa o
aconselha a voltar a Portugal, e a pedir protecção, a troco de ir depor na
Comissão de Inquerito Parlamentar sobre Camarate.
Esse telefonema foi
gravado, mas José Esteves nunca chegou a obter uma protecção
formal.
Telefono a Frank
Carlucci, em 1987, pedindo-lhe para falar com ele
pessoalmente.
Ele aceita, pelo que
viajo do Brasil, via Miami, para Washington.
Pergunto-lhe então,
em face do que se tinha falado de Camarate, qual seria a minha situação, se
corria perigo por causa de Camarate, e se continuarei, ou não a trabalhar para a
CIA.
Frank Carlucci
responde-me que sim, que continuarei a trabalhar para a CIA, tendo efectivamente
continuado a ser pago pela CIA até 1989.
Frank Carlucci
confirma nessa reunião que puderam contar com a colaboração de Penaguião na
operação de Camarate, e que ele, Frank Carlucci, esteve a par dessa
participação.
Em 1994, foi-me
novamente montada uma armadilha em Portugal, por agentes da DEA que não gostavam
de mim, por causa da referida prisão de agentes seus, denunciados por
mim.
Nesta armadilha
participam também três agentes da DCITE - Portuguesa, os hoje Inspectores Tomé,
Sintra e Teófilo Santiago.
Depois desta
detenção, recebo a visita na prisão de Caxias de dois procuradores do Ministério
Público, um deles, se não estou em erro, chamado Femando Ventura, enviados por
Cunha Rodrigues, então Procurador Geral da
República.
Estes procuradores
referem-me que me podem ajudar no processo de droga de que sou acusado, desde
que eu me mantenha calado sobre o caso Camarate.
Por ser verdade. e
por entender que chegou o momento de contar todo o meu envolvimento na operação
de Camarate, em 4 de Dezembro de 1980, decidi realizar a presente Declaração,
por livre vontade.
Não podendo já
alterar a minha participação nesta operação, que na altura estava longe de poder
imaginar as trágicas consequências que teria para os familiares das vítimas e
para o País, pude agora, ao menos, contar toda a verdade, para que fique para a
História, e para que nomeadamente os portugueses possam dela ter pleno
conhecimento.
Não quero, por
ultimo, deixar de agradecer à minha mãe, à minha mulher Elza Simões, que ao
longo destes mais de 35 anos, tanto nos bons como nos maus monmentos, sempre
esteve a meu lado, suportando de forma extraordinária, todas as dificuldades,
ausências, e faltas de didicaçâo à familia que a minha profissão
impliava.
Só uma grande mulher
e um grande amor a mim tornaram possível este
comportamento.
Quero também
agradecer à minha filha Eliana, que sempre soube aceitar as consequêncais que
para si representavam a minha vida profissional, nunca tendo deixado de ser
carinhosa comigo.
Finalmente quero
agradecer à minha mãe que, ao longo de toda a minha vida me acarinhou e
encorajou, apesar de nem sempre concordar com as minhas opções de
vida.
A natureza da sua
ajuda e apoio, tiveram para mim uma importância excepcional, sem, as quais não
teria conseguido prosseguir, em muitos momentos da minha
vida.
Posso assim afirmar
que tive sempre o apoio de uma família excepcional, que foi para mim decisiva
nos bons e maus momentos da minha vida.
Lisboa, 26 de Março
de 2012
Fernando Farinha
Simões
B.I. n.º
7540306
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