Bipolaridade política
Ouvi algumas aegações
irónicas proferidas, hoje, na convenção do Bloco de Esquerda as quais tomo a
liberdade de comentar:
Complexo do dito pelo não dito – foi repetidamente alegada a
urgência de formar um governo de esquerda sem o P.S., o que estas afirmações
querem dizer na realidade é que os dirigentes do Bloco não desejam governo de
esquerda nenhum, eles na realidade, tomando esta posição irredutível, querem é
que a direita continue a governar Portugal, ainda por cima chegam atrasados em
relação ao P.C.P. esta tem sido a tática política deste partido desde pelo
menos o 25 de abril, esta hostilização do P.S. à esquerda empurrou-o
taticamente para a direita, claro que as políticas de direita tomadas pelos
governos do P.S. são da sua responsabilidade mas não só;
Complexo da nuvem por Juno – nesta linha, confundir o P.S.
com a direção de José Seguro é como tomar Coelho, Portas, Gaspar, Relvas ou o
dr. Cavaco por todo o povo português;
Complexo visionário – foi badalada a emergência de uma grande
esquerda, ou uma esquerda grande, visionarismo puro na linha de Santa Teresa de
Ávila ou de Savonarola, demonstra ainda uma mania das grandezas mal digerida
pela pequenez a que a realidade os remete;
Complexo da mudança eterna – Rosas disse que o país está à
beira de uma grande mudança, isto é repetido desde pelo menos o Renascimento e
já Camões poetava que “todo o mundo é composto de mudança / tomando sempre
novas qualidades”, enfim;
Complexo democrático – foi dito que o Bloco quer derrubar
este governo e a convocação de novas eleições, se as eleições representassem
uma mola viável de mudança estaria de acordo, mas a mudança só acontece com a
mudança de mentalidades e particularmente com a mudança de atitudes e práticas
políticas que o povo espera da parte das organizações políticas e das quais o
Bloco de Esquerda tem mais responsabilidades que outro qualquer uma vez que
apareceu como a força política da modernidade mas revelando afinal que não
passa de mais do mesmo, a mediocridade geral e a esperteza saloia como prática
política, assim o fosso entre eleitores e partidos ou eleitos alargar-se-á
irremediavelmente pois o que lhes é oferecido é mais do mesmo.
jaime crespo
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